segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um semestre de experiências

Ontem, dia 11 de julho de 2010, foi um grande dia na história do IMP. O LAB_06 fecha com chave de ouro um semestre de muito trabalho e de intensas experiências. Como orientora me sinto hoje particularmente satisfeita e feliz com essa trajetória que estamos construindo juntos. Vejo um grande sentido em partilhar com cada um de vocês, meus incrivelmente particulares impistas, minhas "crises" (palavra tão citada ontem) sobre criação, colaboração, presença, conexão, amor, movimento. Sobre dança. É maravilhoso dançar essas crises todas com vocês. Muito obrigada!

Há mais ou menos 2 semanas, cruzei com um livro no balcão do Vila e comecei a mexer em suas páginas com uma curiosidade completamente despretensiosa. E qual não foi minha surpresa de encontrar "por acaso" um incrível parágrafo sobre experiência de Peirce. Guardei como se fosse um pequenos presente que decidi compartilhar somente hoje, para carregarmos essas palavras conosco durante as férias e voltarmos ainda mais vibrantes e dançantes em nossa próxima etapa.

Divirtam-se:

"A experiência é nossa única mestra. Longe de mim enunciar qualquer doutrina de uma tabula rasa [...] Pois não existe, manifestamente, uma gota de princípio em todo vasto reservatório da teoria científica socialmente aceita que tenha surgido de qualquer outra fonte que não o poder da mente humana de originar idéias verdadeiras. Mas esse poder, por tudo que ele tem realizado, é tão débil que, uma vez que as idéias fluem da suas nascentes na alma, as verdades são quase afogadas em um oceano de falsas noções; e o que a experiência gradualmente faz é, e por uma espécie de fracionamento, precipitar e filtrar as falsas idéias, eliminando-as e deixando a verdade verter em sua corrente vigorosa. [E ainda:] ... em filosofia, a experiência é o inteiro resultado cognitivo do viver [...] exatamente tanto quanto experiência é percepção do real."

2 comentários:

  1. Pois então, acho que o parágrafo recortado traz algumas coisas preciosas, mas mistura um pouco algumas outras. E acho que a nossa experiência nesse semestre pode servir de exemplo para concluirmos isso.

    A experiência, a realidade concreta, o fato concreto por nós vivido, coloca em xeque as idéias, desmente as falsas idéias e confirma as verdadeiras. É ela, a realidade concreta, a experiência, que vai confirmar/reafirmar a verdade, e não o contrário. Isso foi um pouco do que experimentamos no IMP inclusive. A experiência como motor e como critério da verdade. E pudemos, a meu ver, ter certeza de que isso é bastante coerente.

    No entanto, o que eu tendo a achar é que o pensamento (ou o 'vasto reservatório da teoria científica socialmente aceita') não está descolado desse processo de experenciar o mundo, da realidade concreta. As idéias e o pensamento não são fruto de outra fonte que não a própria experiência e a realidade concreta. Se afirmarmos que as idéias se originam de um 'poder da mente' ou de uma 'alma', que a mente humana ou uma essência interna/metafísica é a fonte primeira do que pensamos, estaremos contratizendo o que tentamos dizer antes, de que a experiência é nossa mestra, e que confirma e afirma tudo que pensamos. É justamente a experiência, a concretude, o motor do pensamento. Não é o pensamento que determina o real, mas exatamente o contrário. O que vivemos nesse semestre juntos comprova isso. Não discutíamos e elaborávamos abstrações a partir do nada, de pirações da nossa cabeça. Era a partir da experiência concreta que nos colocávamos a pensar. A experiência, a vivência concreta era o pressuposto para as teorizações ou reflexões.

    A experiência, o concreto, constitui-se assim, como elemento estruturador do pensamento, mas não como momento único em que isso se dá. O pensamento não é o reflexo mecânico da experiência. O reflexo automático da experiência é caótico, pois apreende apenas partes fragmentadas da realidade. A reflexão que acontece a partir do que se experimenta da realidade é fundamental para organizar e tratar as informações que chegam pelos nossos sentidos, e compreender a totalidade que compõe o real e os nexos lógicos postos na realidade. A realidade não é caótica, mas nossa percepção parcial das coisas pode nos dar essa impressão. A investigação mais detida sobre nossa experiência pode nos revelar as causas dos fenômenos vividos. A experiência, portanto, constitui-se como um momento do processo de conhecer o mundo, e de se conhecer. A reflexão mental/abstrata impulsionada pela experiência, pelo que nossos sentidos apreendem do mundo, é outro momento fundamental e distinto do primeiro. Nossa prática do IMP mais um vez confirma isso. Não basta experimentar corporalmente as coisas. A reflexão sobre isso, seja na discussão na roda ou no registro do caderno, constitui-se como momento igualmente importante para nosso crescimento e para a elaboração do conhecimento a cerca de nós mesmos. A abstração/reflexão não tem, entretanto um fim em si mesma. Refletimos abstratamente e elaboramos novas sínteses no pensamento que alimentam novas experiências, novas vivências concretas. Nossas teorizações retornam a realidade material modificando nossas experiências, modificando a forma como nos relacionamos concretamente com nosso próprio corpo, com o outro, com a dança. Essas novas experiências, ou novas formas de experenciar essa realidade, vão impulsionar novas reflexões, novas elaborações, que retornam ao concreto impulsionando novas experiências, e assim sucessivamente, em patamares sempre diferentes.

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  2. Mto terreno, racional e academico esse pensamento "As idéias e o pensamento não são fruto de outra fonte que não a própria experiência e a realidade concreta". Tudo se entrelaça no ser humano, a experiencia do corpo e da alma. Não é uma contradição e sim uma complemento. A matéria, pode existir sem a alma, assim como a alma pode existir sem a matéria só que em ambos a experiência não será completa. Os dois precisam um do outro para o ser-humano. E se não colocarmos a nossa energia, alma, corpo e suor assim como vcs fizeram neste LAB_, não teria tocado o publico que ali estava.

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