domingo, 26 de dezembro de 2010

Já não sou um quarto vazio

Habitam-me todo o tipo de antíteses e leves desesperos. Desacordo minhas velhas reentrâncias. Debruço esperanças sobre o parapeito, quero olhar pra baixo, mas é alto daqui e não vejo o fim.

Sou agora um labirinto penetrado por visitantes que deixei entrar. Deixei que me aparassem as arestas, a fim de abrir-lhes os caminhos. Entram pelas brechas frágeis, carregadas de febre e loucura, quebram todo o meu antigo desamor em pequenos cacos, a rasgar-me a pele . Desabam minhas mentiras construídas de concreto pelo chão. Desnudam-me em verso e prosa.

E no fim, esse fim que já nem existe, que não pode ser meu, meu, meu, teu, teu, nosso, esse fim que não tem nome, acabando sem acabar, já não sou uma casa vazia, desabitada, não mais destenho. Tenho agora meus cômodos preenchidos e uma mão para segurar.

[Amanda Leal]

Texto de uma amiga minha do Pé no Palco, que inspirada em nosso Parapeito escreveu este texto.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

domingo, 12 de dezembro de 2010

Impressões

Meus queridos,
Foi lindo estar com vocês este ano.
Obrigado a todos.
Amo muito.
Dani.

IMPressões


"
Equilibrar-se
Sobre
Precipícios
Enquanto
Toca-se a
Alma
Com
Uma
Liberdade: a
Originalidade

Mari, no feedback/PARAPEITO talvez eu possa não ter me feito claro quando,
usei a palavra espetéculo. mas o sentido que me veio é esse daí de cima.
Tentei colocar isso no blog IMP mas, não soube como faze-lo e nem sei se é possivel
para um "de fora".
Gostaria que vc encaminhasse essa síntese aí de cima ao blog como uma impressão
de um espectador que admira muito as propostas desenvolvidas por essa galera cheia
de talentos , e que eu gosto... "

Silvio Menezes da Silva

___________

Meu pai escreveu-me isso e, como viram, pediu para que eu postasse como forma de parabenizar-nos pelo nosso trabalho. Bem, aí está.
Foi lindão gente!
Obrigada a todos, por tudo. Amo vocês.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Minha Janela

O vento sopra indiferente,

O vidro tremula o vazio entre si e seus limites

Apenas a ausência.

E os espaços incompletos se tornam sons e movimentos

Mas se vê o silencio,

ecoando na essência de tudo que é

E se vê o tempo,

escrevendo com pó sua impaciência sobre os móveis

E a luz que reflete as cores, brilha por falta de opção

E tudo que se afirma, é sim por não poder ser não

Tem certas manhãs que eu preferia não estar aqui

E certas noites, se não fosse por você eu me deixaria até cair

Não que seja especial

Não que te considere real

Mas o vazio do teu silêncio, muitas vezes me conforta

E ainda que te esqueça, me levanto e fecho a porta

O lado de dentro, o lado de fora,

Eu sei, depende só de mim

E se eu fosse algo assim, não me permitiria abrir

Ao olhar pra você, E olhar o espelho

E olhar o reflexo, E ver o que vejo

Me perco em tantas incompletudes

E duvido que haja alguma maneira,

se somos todos feitos de nada

Porque no fim nos tornamos poeira?

A mesma que cai

Sem saber se ja chegou

Sem saber se é ou se deixou

Sem saber que sou igual e me pergunto

Pela janela do quarto, o outro lado

Pela janela da alma, o que não falo.


Escrito por: Israel Barros

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

LAB_07 - parapeito

LAB_07

O LAB_ é um
encontro que caracteriza o encerramento de cada módulo do “IMP – Investigação do Movimento Particular” (núcleo de pesquisa em dança do Vila Arte). Este encontro tem, em primeiro lugar, o desejo de proporcionar ao artista um momento de compartilhamento de seus processos de criação e um lugar de transformação e experiência acerca do corpo e suas interfaces. Tem também como objetivo aproximar artista e público, possibilitando uma reflexão a respeito das configurações investigadas por cada participante do núcleo e estimulando o exercício do feedback.


parapeito

Em outubro de 2010 foi dada a largada de mais um processo colaborativo de criação em dança do IMP. Após alguns encontros realizando exercícios de criação (compositions) a partir dos interesses de pesquisa de cada integrante do núcleo, chegamos finalmente a nossa temática comum de investigação: as janelas. As próprias janelas e tudo o que pode acontecer dentro e fora delas. Os moradores, os transeuntes, as relações, os conflitos, as histórias, a arquitetura, a ausência, os edifícios, o espaço entre edifícios e assim por diante. O livro A morada do ser, de Marina Colasanti, foi também grande fonte de pesquisa e inspiração à criação deste trabalho. Assim como os contos de Marina, parapeito é uma forma de olhar pelo buraco da fechadura e de se aproximar de universos particulares e aparentemente intangíveis.

Orientação: Juliana Adur
Artistas Criadores: Alexandre Zampier, Daniel Kleiber, Douglas Sartori, Gabriel Conte, Gabriel Machado, Jossane Ferraz, Juliana.Kis, Mariana Mello, Maíra Lour, Sarah Rosenkrantz e Thaísa Marques.

11 e 12 de dezembro de 2010 às 19h
ENTRADA FRANCA

Vila Arte Espaço de Dança
Rua Saldanha Marinho, 76 - sala 03 - centro
Informações: begin_of_the_skype_highlighting (41) 3233-8034 / 9992-5140
juliana.adur@hotmail.com
(41) 3233-8034

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dois homens na janela

Dani e Gab Conte.
Inspiração primeira para a nossa janela foi o seguinte apartamento de Marina:

Apt° 601

Não tolerava invasões do seu espaço. Tinha sua poltrona, sua mesinha, sua luz. Que ninguém se aproximasse quando ali se encastelava.

Mas a mulher teimava em atravessar por cima de seus pés, os filhos insistiam em procurar-lhe o colo.

Advertiu-os com um biombo, divisória entre o que era seu e o que era comum. Porém, os sons invadiam sua privacidade e a televisão varava treliças.

Substituiu o biombo por um muro, construção maciça alcançando o teto. Aferrolhou a porta que franqueava o muro.

Batia à porta a mulher chamando para o telefone. Batiam os filhos pedindo dinheiro. A empregada batia.

Durante semanas escavou o fosso, durante semanas carregou água. A ponte foi mais rápida. Depois de dias de pregos e martelo, bastou puxar a corda para que, num ranger de polias, se erguesse intransponível.


Dançamos o isolamento, de um homem... ou dois, ou três.

Do arejado ao sufocado.

Num ambiente hostil desenvolve-se a crise. A fisicalidade ganha tônus num duo espelhado.

Reconhecimento do entorno e do desgosto.

O espaço se comprime e aperta as reflexões.

Um homem que se encontra consigo mesmo - quando não há mais para onde ir, para onde ir?


Em construção.

impressões sobre movimento

dois tipos de corpos, os mais flexíveis e os não tão flexíveis. falarei destes dois tipos de corpos, mesmo sabendo da quantidade variável de qualidade de corpos.


um corpo sozinho, flexível, acessa a possibilidade do acaso com mais ligeireza, tem uma resposta orgânica mais rápida ao momento, à adaptação. um corpo que se conhece.
acredito que dois ou mais corpos flexíveis possam multiplicar as possibilidades, os acasos, abrir as situações, corpos que se surpreendem. corpos que se conhecem e se reconhecem no outro, abrindo possibilidades.
mas, ao mesmo tempo corpos duros, que se fixam, se moldam, programam o que ainda não aconteceu, se confundem e não confluem na fluidez do acaso, ao invés da adaptação são geradas perguntas "como será?", "será que posso?" ou "será que o outro vai gostar?".
corpos inteligentes são os que moldam sua "energia" de acordo com a situação e a potencializam.
conhecer a si mesmo é abrir portas para a adaptação, sem rancores, sem pré-conceitos.


formas desconstruidas, geram muitos mais formas.

"não esqueça de tirar a luva"


movimento a partir do centro do corpo
na união dos dois corpos
consciente
seu movimento me traz sensação
o movimento movimentando meu corpo
quadril
braços longos 
agarramento
uma ajeitada de perna feminina
o giro, a alegria
homem e mulher se consomem
expostos
na janela

sábado, 27 de novembro de 2010

Sobre a janela 2

Despertar uma vida hoje passiva
Uma energia guardada
Mas não um choque
Uma contaminação
Que escorre pelas paredes

Um sangue que corre
Um arrepiar que começa
Um balde de luz que lentamente se derruba

Sobre a janela 1

Quadro de família
Time todo reunido
Tudo parte de uma mesma coisa
Prédio principal
A ligação existe e é perceptível, mas nada se liga
Harmonia de olhares, mas ninguém se olha
Cotidiano do coçar
Investigação do coçar
As partes de um todo que não se sabe o que
Atirando para não se sabe onde
Mas sem nada sair do lugar
Sem se abalar
Uma chacoalhar quase tímido
Apenas do detalhe
Uma estrutura sem espaços
Concreto armado
Furos mil
Onde se imagina passar
Mas onde quase nada passa
Onde tudo se mantém
Onde tudo está
Guardado e encaixado
Cada um na sua ausência
Cada um no seu lugar

domingo, 21 de novembro de 2010

portas e janelas

relacionar-se com o acaso,
com outros corpos
desarmar o olhar do espaco
são brincadeiras diarias
no onibus, na porta de casa
de porta e janela abertas
para que o vento esteja sempre em movimento dentro casa
dentro de mim

domingo, 14 de novembro de 2010

Coisas


Eu não sei. Há momentos em que é tão difícil estruturar pensamentos... E por um lado isso é bom. Tenho pensado demais nesses últimos tempos...
Quando a Ju perguntou "do que você tem medo?" eu percebi que, na verdade e para variar, meu medo é sempre esse de não atingir. Medo de não conseguir me colocar em risco, medo de não chegar no outro.
Acho que o que me move - tanto na janela quanto no rompimento - é o amor. Assim como na vida. E o que isso possa significar. Tive vontade de falar mas (há-há!) isso me dá medo, me assusta um pouco. Mas vejo como meu caminho de alcance ao outro é através do amor. Do amor que dói e afasta-se, mergulha em si mesmo como que para fugir de si, de sua natureza que nem sempre é fácil, confortável, agradável. Do amor que rompe as fronteiras, escancara as janelas, quebra, sangra. Do amor que beira a paz, que se reconhece no afeto, que alegra e esquenta. Esquenta esse impalpável, torna morno o intangível. Do amor que ama apenas por amar pois encontra sua satisfação em encontrar o outro. Por mais que não haja correspondências, por mais que não se cumpram expectativas. Apenas ama. Pois crê, dessa forma, alcançar o outro, crescer a paz, acreditar o mundo.

____

Beijos amorosos, meus queridos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Parapeito

Então minha gente.

Venho dividir com vocês um pouco do que estou pensando.

Durante os nosso exercícios essa palavra tem vindo muito na minha cabeça.

E resolvi ir atrás dela:


Definição:


“Parapeito (do italiano parapeitto) é uma espécie de parede como barreira, que se ergue até a altura do peito, situado à extremidade de um telhado ou edifício. Pode servir para prevenir quedas não desejadas, e ainda ter funções defensivas, de construção ou estilo arquitetônico.

Também chama-se parapeito ou peitoril à parte inferior das janelas, de madeira ou outro material, onde se debruça. Em linguagem militar, o parapeito é a parte superior das trincheiras, que serve para proteção dos soldados.”


Não satisfeito com tudo isso fui vasculhando o Google e encontrei um livro que se chama No parapeito de uma menina chamada Rita Ferro Rodrigues.


Ela tinha um blog e o livro surgiu dai:


Editado A partir do blog que fez sucesso na internet, um livro, No Parapeito: as palavras que ficam suspensas nas janelas, fala das coisas Simples da felicidade.

A história de abertura que dá o título ao livro é um texto de homenagem aos seus avós. Durante anos namoraram à janela, e para manterem a intimidade das palavras e os segredos dos amantes, falavam no silencio: escreviam frases inteiras no ar, desenhando todas as letras que são necessárias para dizer tudo o que se sente quando se ama. Assim foi durante muitos anos. Aquele amor cresceu naquela janela e com ele o desejo de casar..


Olhem ai, coisas que encontrei da moça:


Fui escorregando por ti adentro, devagarinho. Tacteando à medida que ia entrando em ti, com cuidado. Tinham-me dito que isso de um homem e uma mulher sentirem um pelo outro (apenas?) uma amizade profunda era luta perdida


A vida vai-me passando ao lado. Desta janela parada em que a observo é doloroso ver outros parapeitos irrequietos e, asseguro-vos, demasiado irreverentes. Urge dar valor à vida


Será que ela repara, que o tempo não anda mais?

Será que ela repara, que o sol não gira mais?

Será que ela repara, que meu peito para?


Disso me deu a súbita vontade de dançar com a Sarah, que gentilmente aceito o convite e estamos começando a explorar essas ideias.


E como nem tudo são flores na vida de um casal, porque de vez enquando vem a guerra... ainda tem um conto da Marina Colasanti que está nos inspirando para fazer o desentendimento (ou pode ser o não intendimento) do casal:


Apto 503:


Chegando em casa do trabalho, boa-noite, um vago beijo, e os movimento sempre reiniciados.


Porém não aquela noite. Depois do cumprimento, em vez do beijo, recebeu da mulher uma luz de incompreensão:


-Wrts? - Perguntou ela. Ou assim lhe pareceu.


Impressão de ter ouvido mal. Repetição de tudo. E de repente a vertigem do espanto. Sim, as palavras de tantos anos não eram mais veículo. Falavam línguas estranhas. Ainda insistiram, esperando. Mas os sons que articulava nada significavam para o outro. E esbarraram no silêncio.


Quietos na casa pela primeira vez.


Procuraram-se pelos olhos. Ensaiaram gestos. Aos poucos, um entendimento distante se fazia, substituindo conversas.


A casa vestiu outra rotina. Cediam o passo diante da geladeira, entretinham-se em silêncio ocupados em si, já não brigavam. Encontravam-se à noite reconhecendo gemidos, e no espaço aberto pelo não falar moviam-se fáceis.


Mas um dia, voltando da rua, ela o cumprimentou com o antiga naturalidade. Boa noite, e estendeu o rosto para o beijo.


Vencendo rápido o susto, ele imprimiu no rosto luz de incompreensão e :


- Wrts? - respondeu


E para quem puder entre no blog http://sorriso-do-bisturi.blogspot.com/ para conhecer um pouco mais da R.F.R.



Fui assistir o espetáculo "O Amor vem do nada..." lá no Pé no Palco, que inclusive tem assistência de direção do nosso amigo Douglas, e me deparei com um texto muito sensível e também inspirador. Aí vai:

"Queria amar, assim como quem lava os cabelos de uma mulher.
A mulher deitada na banheira e minhas mãos encaracolando espuma, friccionando a pele com a ponta dos dedos.
Desamarrar um por um dos cílios.
A cabeça dela para trás, os olhos fechados à espera.
Pode tentar, é como cumprimentar a relva logo cedo.
Antes de morar com uma mulher deve-se lavar seus cabelos.
Levar a dor de cabeça dela para longe.
Depois apertar levemente a esponja das sobrancelhas para completar o rosto.
Não exagerar a chuva com os relâmpagos.
Não exagerar a chuva com o vento.
Correr com a ligeireza da água pelos ombros.
Para amar, basta seguir a água.
Não se precisa de mais nada.
Basta imitar a água."

Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Estrela cadente no céu da cidade

Fim de tarde cansado e vermelho. Naquele edifício fosco como uma muralha, homens e mulheres de volta do trabalho retomam seu viver doméstico.
Movem -se nos quartos, banheiros, salas e cozinhas, geometricamente superpostos, abelhas de um estranho alveário em que cada alvéolo ignora o vizinho. Ninguém chega à janela. As televisões estão ligadas.
Assim mesmo, muitos ouvem quando um acrobata de malha prateada despenca com um grito no meio do pátio.
Reunidos em espanto ao redor da rara estrela ensanguentada que ilumina o cimento, alguns levantam a cabeça. Só então percebem o fio esticado no alto, caminho improvável entre dois prédios, risco de faca cortando o céu que escurece.

Marina Colasanti - Contos de Amor Rasgados.
Apto 407
"Quando a televisão morreu esvaindo-se aos poucos em meio à frase do herói, assustou-se. Há muito ela esquecera transistores e circuitos. A televisão simplesmente vivia sua vida. E agora ali estava, sem luz e sem som, fria no meio da sala.
Ausência à qual não podia se submeter.
Trabalhou a noite inteira com o material trazido da rua. Primeiro remover a tampa, precisão de chave de fenda. Depois esvaziar o ventre, retirar fios, placas, conexões. Limpar a cavidade. Na caixa escura instalar as lâmpadas, ligar os fios, o interruptor. E ajustar, com amor e cuidado, o espelho de pontas arredondadas, exata medida do vídeo.
Tudo pronto a seu lado antes de começar o dia. Três minutos antes das sete, maquilagem perfeita. Dois minutos antes das sete, impecável blusa cor-de-rosa. Um minuto antes das sete, colar a postos. Sete horas precisas. Sentada diante do espelho liga o interruptor. Luzes. Brilha o espelho. Sua imagem no seu ar. Ação.
Sorrindo ela mergulha a colher no Danone que alimenta. Suspirando bebe Guaraná da vitória. Halitando brilha Kolinos, ahhhh. E mastiga Plus Vita. E esfrega Bom -Bril. E limpa com Fúria. E fuma fuma fuma lavando em espumas seus cabelos, tomando banhos refrescantes, estrela dos próprios comerciais, dona de uma programação que só a ela obedece."
*
Ela não vê a hora que seu momento chegue. Está pronta. À espera de uma oportunidade. Sua vida é na TV, esta é sua realidade.
Tudo ainda é ficção, mas amanhã quem sabe: - Serei estrela dos próprios comerciais!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Minha Janela


Da janela do meu quarto eu vejo o céu.
Vejo a rua parada e o som do silêncio inquietante.
Da janela do meu quarto eu vejo todas as cores dos sentimentos.
O azul de quando tudo está na mais perfeita harmonia.
O amarelo rico que te ilude e fascina.
O branco da paz interna radiante.
O vermelho da paixão ardente dentro do meu corpo.
O preto do ódio de estar sentindo ódio.
O rosa do amor mais lindo e puro que já existiu.
....
Consigo ver todas as cores dos sentimentos.
Consigo ouvir o silêncio e sentir a brisa leve no meu rosto.
Ali, eu vejo além da janela do meu quarto.











hoje de manhã na minha janela...


sol, gato, flores e tela na minha janela...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

essa noite, re-descobri, que dançar sozinho é delicia
sozinho em casa
de cortina escancarada e vizinhos frondosos

essa noite dancei comigo
era clássico, contemporâneo
meu corpo hoje

essa noite dancei comigo
......................................
dançava com outra pessoa

Naufrage - Clorinde Durand

Ofélia

"Águas demais pra ti minha pobre Ofélia..."

Na janela, entre olhares encharcados, Gabriel e Mariana dividem suas vidas (e conseqüentemente bailam suas ausências) com Ofélias, Stellas, Marinas, Virginias e Clarissas.
Não se sabe muito bem como se dá essa troca de olhares, mas uma coisa é certa, todos que estão, pra cá e pra lá do vidro, estão alagados, encharcados, afogados, mergulhados em um amor incondicional que dilacera-os.

(Sobre processo Criativo Janelas- Parceria Gabriel Machado e Mariana Mello)

Referenciais:

Heiner Muller - Hamlet-Machine

(Ofélia. O seu coração é um relógio)

Eu sou Ofélia. Aquela que o rio não conservou. A mulher na forca. A mulher com as veias cortadas. A mulher com excesso de dose SOBRE OS LÁBIOS NEVE a mulher com a cabeça no fogão a gás. Ontem deixei de me matar. Estou com só com meus seios, minhas coxas, meu ventre. Rebento os instrumentos do meu cativeiro - a cadeira, a mesa, a cama. Destruo o campo de batalha que foi o meu lar. Escancaro as portas para que o vento posso entrar e o grito do mundo. Despedaço a janela. Com as mãos sangrando rasgo as fotografias dos homens que amei e que se serviram de mim na cama, mesa, na cadeira, no chão. Toco fogo na minha prisão. Atiro minhas roupas ao fogo. Exumo do meu peito o relógio que era o meu coração.Vou para rua, vestida em meu sangue.

Marina Colassanti- A Morada do Ser - Conto "Apto 204"

Trecho Final:

Ao entardecer brilha seco o sinteco. Mas do umbigo, fresca e clara, água brota alagando o ventre, lavando as carnes brancas sobre a cama.


Banda Interpol - Albúm "Our Love to Admire"

Músicas no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=6HC95n5y33I
http://www.youtube.com/watch?v=mq_S2vy0qwc

letra de "Stella was a diver and she was always down"
http://letras.terra.com.br/interpol/97173/traducao.html


Iconografia:

- Ophelia de Everett Millais


- Fotografias de Carol Armstrong - Bodies of Water

liquidez e concreto



Inspiração para minha janela; pelo buraco da fechadura vejo uma mulher, paredes de concreto e uma infiltração-fonte de água. Que a água alague tudo, vou inundar a casa.

Conto nº204
Moradas do Ser - Marina Colassanti

"A nascente apareceu repentina ao pé da cama. Irritou-se a príncipio, tanta água estragando o sinteco. Nem identificou a poça, constante apesar de panos e baldes.
Logo teve que se convencer. Água surgia do cimento, taco, sem que cano algum passasse pela vizinhança. Era a benção de uma fonte.
Banhou-se então seguidas vezes na água milagrosa. Ao entardecer despia-se, levantava a água nas mãos em concha e a despejava sobre seu corpo. Não tornava a vestir-se. Deitava nua na cama, lavadas as carnes, preciosa a pele. E com mãos suaves alisava o corpo santo, acariciava-se em redescoberta do amor. Suspirosa adormecia seu sono de festa. Aumentando a água, infiltrou porém o teto do vizinho. Que houve por bem reclamar com porteiro síndico polícia, comparecendo o bombeiro a mando da lei para, cimento e brocas, acabar com o estranho surgimento.
Ao entardecer brilha seco o sinteco. Mas do umbigo, fresca e clara, água brota alagando o ventre, lavando as carnes brancas sobre a cama."

Waiting-Esperando

a
single
feather
caught
between
2 stones

beckoning
it
waits
for
release

and
I
am
waiting
also.

-Daniel Rosenkrantz
Traducao:
Esperando

uma única pena presa entre duas pedras

acenando, ela aguarda liberdade

 
e eu estou esperando também.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

JANELAS

Em outubro de 2010 foi dada a largada de mais um processo colaborativo de criação em dança do IMP - Investigação do Movimento Particular. Após alguns encontros realizando exercícios de criação (compositions) a partir dos interesses de pesquisa de cada integrante do núcleo, chegamos finalmente a nossa temática comum de investigação: as janelas. Janelas e tudo o que essa palavra pode carregar de forma objetiva/concreta ou subjetiva/metafórica. As próprias janelas e tudo o que pode acontecer dentro e fora delas. Os moradores, os transeuntes, as relações, os conflitos, as histórias, a arquitetura, a ausência, os edifícios, o espaço entre edifícios e assim por diante. As postagens anteriores já trazem referências desta investigação e continuaremos o trabalho de compartilhamento deste material até a data do nosso próximo LAB_ (LAB_07) previsto para dia 12 de dezembro de 2010. Toda contribuição é muito bem vinda!!!


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

de uns tempos pra cá

movimento é sexo comigo, mesmo

domingo, 17 de outubro de 2010

Stella


♫ When she walks down the street,
She knows there's people watching.
The building fronts are just fronts
To hide the people watching her ♫

Tradução do letras.terra.com.br:

Quando ela caminha pela rua
Ela sabe que existem pessoas a espiando
As frentes dos prédios são somente fachadas
Para esconder as pessoas a espiando

(Trecho da música "Stella Was A Diver And She Was Always Down" da banda Interpol
Foto de Bernie Dechant)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Numa Janela do Edifício Prestes Maia 911"












Trata-se de uma série de fotografias dos moradores do Edifício Prestes Maia 911 em São Paulo registradas pelo fotógrafo Júlio Bittencourt. São 468 famílias que aparecem nas 364 janelas deste edifício que foi ocupado, abandonado há mais de 15 anos.



Texto Adaptado de Yara Barbosa X Minha Janela

Da janela do meu quarto

Da janela do meu quarto eu vejo o céu.

Vejo a rua parada e o som do silêncio inquietante.

Da janela do meu quarto eu vejo todas as cores dos sentimentos.

O azul de quando tudo está na mais perfeita harmonia.

O amarelo rico que te ilude e fascina.

O branco da paz interna radiante.

O vermelho da paixão ardente dentro do meu corpo.

O preto do ódio de estar sentindo ódio.

O rosa do amor mais lindo e puro que já existiu.

Da janela do meu quarto eu sinto a brisa leve no meu rosto.

Aquela brisa que carrega levemente as folhas no chão de um lado para outro.

Da janela do meu quarto eu vejo a tristeza e a alegria brigando para dominar nossos corações.

A ganância e a libertação disputando a conquista pelo ser humano.

Um ponto onde nada é impossível. Onde a vida real se confunde com a fantasia.

E ali, naquele lugar, com aquele ser, consigo ver todas as cores dos sentimentos.

Consigo ouvir o silêncio e sentir a brisa leve no meu rosto.

Ali, eu vejo além da janela do meu quarto.

Texto Adaptado | Yara Barbosa

Apto 106 | Marina Colasanti

Apto 106

A encomenda chega pelo correio em sucessivos volumes. Nas caixas de papelão as peças brilham plásticas, folhetos coloridos ilustram segredos de montagem, porcas, parafusos, elásticos garantem firmeza.

Trabalha à noite. No encaixe desliza a ponta que em outro encaixe se prende. Gira a rosca. Por partes cresce o conjunto. E o pincel de marta desliza espalhando verniz. Por fim, prendem-se as asas.

Pronto, de frente para a janela aberta. Sobe-lhe ao dorso Aperta os joelhos, dá ordens, puxa alavancas. Movem-se as asas lentamente. Sem vôo, porém, quedas as patas que repousam sobre tacos. Insiste, ergue o próprio corpo para frente em ajuda de impulso. Nada. Apenas o ar se agita, tangido pelo vaivém mecânico das asas.

Inutilmente escreverá para os fabricantes. Receberá, prezado senhor, explicação de mal-entendido, não tendo sido o vôo mencionado em qualquer documento informativo concernente nosso produto nosso produto remetido em data aprazada conforme guia do correio nº B-45/75301.

Um erro, um mal-entendido. Como entender de outra forma? Só por isso comprou. Tudo levava a crer. Tudo. Agora lá está diante da inútil janela. Escultura cinética enfeitando a sala, cavalo alado morto.

Marina Colasanti | A Morada do Ser

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

de uns tempos pra cá

Hace tiempo que falamos de presença e ausência e num dia desses estava almoçando com srta. napoli e ela me contou sobre certa super-presença dos corpos, que num primeiro momento ficou flutuando na minha cabeça, apenas flutuando.    Segue historia.
Tem uma moça que vai sempre nas quartas no BluesVelvet, e com ela uma maneira de falar sobre a super-presença me foi presentificada. Ela esta sempre olhando com os olhos bem abertos, sorrindo, o corpo como que comandado se virava em movimentos bruscos em direção a outros corpos, ela não era ela, ela era uma projeção dela mesma, INCONSCIENTE.     matutei sobre isso.

(o controle dela esteja talvez sobre o estado (superpresença) e não sobre a ação) ????

Ontionti, pedalando, me veio a super-presença, essa dimensão geralmente maior. Sendo trabalhada CONSCIENTE pode ser lindamente interessante. Imagine comigo agora, um corpo que transita entre, ausência, presença e super-presença CONSCIENTEMENTE em cena.

Acaba que presença é mais um estar do corpo. Aquela moça do BluesVelvet se colocava em uma outra atmosfera para ser notada, mas o que mais me notou nela foi a percepção que ela não controlava a super-presença. Ela se jogava num estado.

Obrigado moça do BluesVelvet, srta Napoli, Des, IMP


Nota de rodapé: Ausência, Presença, Super-Presença, Consciencia, Cena.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Girl in the Window

“We sometimes encounter people, even perfect strangers, who begin to interest us at first sight, somehow suddenly, all at once, before a word has been spoken.”

 Fyodor Dostoevsky
 
Vamos ver o que google tradutor acha:

"Às vezes, encontro pessoas, mesmo desconhecidos, que começam a interessar-nos, à primeira vista, de alguma forma, de repente, de uma só vez, antes de uma palavra foi falada."

 
Fyodor Dostoiévski

http://en.wikipedia.org/wiki/Fyodor_Dostoyevsky



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A pálida


No café-da-manhã, minhas certezas servem-se de dúvidas. E têm dias em que me sinto estrangeiro em Montevidéu e em qualquer outra parte. Nesses dias, dias sem sol, noites sem lua, nenhum lugar é o meu lugar e não consigo me reconhecer em nada, em ninguém. As palavras não se parecem àquilo que dão nome, e não se parecem nem mesmo ao seu pŕoprio som. Então não estou onde estou. Deixo meu corpo e saio, para longe, para lugar nenhum, e não quero estar com ninguém, nem mesmo comigo, e não tenho, nem quero ter, nome algum: então perco a vontade de me chamar ou de ser chamado.


Esse texto é do meu querido Livro dos Abraços, do Eduardo Galeano. E, de alguma forma, ele me remete muito à esses estados-espaços de silêncio, vazio, ausência. Deleitem-se!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)

Marina Colasanti


O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

toda a sexta. todo dia

é incrivel, como quando a gente faz alguma coisa que a gente não acreditava fazer e faz e o nosso corpo se sente tão bem. então imagina fazer duas coisas (elimine o cronologico) e fazer duas coisas e seu corpo depois. e seu corpo depois? é como se ele se movimentasse por conta, fizesse, e simplismente existisse. ele fica assim. disse. faça. que a sensação é tão boa que você pinta quadro já pintado . as coisas são tão simples. a vida está agora e não foi ou será; sera? oh, será? até acerto o acento. chorar faz sentido e os espaços no meu corpo fazem sentido. ser faz sentido. eu faz sentido. nois, noiz, noz, fazemos sentido. é incrivel. é incrivel. 

o questionamento leva a frente.

a cultura que não é minha é minha. chorar faz sentido. sorrir pros que gostam.
eu gosto.

não pare seu corpo por favor, não pare. o todo. sorrir faz sentido.
eu amo voce. se deixando. com o olhar interferindo. 

sinto saudades. mas porque? voce esta em mim.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Atoº 507 - Os sentidos

Todos os sábados de manhã ia buscar o mar no fundo da concha. Encostava a vulva nacarada ao ouvido, fechava os olhos, e durante horas ficava ouvindo as ondas, perdido até sentir o gosto de sal.
Faltava porém alguma coisa.
Procurou nos anúncios de jornal, nas revistas espacializadas, escreveu cartas. Por fim conseguiu o que queria.
Agora aos sábados de manhã veste o calção, senta no sofá e, enquanto a mão direira segura a concha junto ao rosto, a esquerda puxa a corrente presa ao pé da gaivota para que ela grite estrídula, canto de liberdade sobre espumas.

A Morada do Ser - Marina Colasanti

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ausências - Sarah Kane


“C – Um estacionamento vazio de onde eu não consigo sair.
B – O medo retumba sobre o céu da cidade.
M – A ausência dorme entre os edifícios à noite,
C – Entre os carros no acostamento,
B – Entre o dia e a noite.
A – Tenho que estar onde devo estar.
B – Deixe
C – Eu
M – Ir
A – O mundo lá fora está supervalorizado.

(retirado da peça "Crave" de Sarah Kane)


"Feita para ser sozinha
Para amar a ausência

Me encontre
Me liberte
Desta
dúvida corrosiva
desespero fútil
horror em repouso

Eu posso ocupar meu espaço
ocupar meu tempo
mas nada pode ocupar o vazio de meu coração

A necessidade vital pela qual eu morreria

Esgotamento
"

(Trechos da peça Psicose 4.48 - Sarah Kane)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

http://strivinglife.com/words/post/Waking-Life-Chapter-11---The-Holy-Moment.aspx

com google tradutor (ingles to portuguese):
(Nós entramos em um cinema onde, na tela, vemos um filme de dois homens que estão falando um com o outro. O primeiro orador é cineasta Caveh Zahedi - à direita na imagem abaixo - eo segundo é o poeta David Jewell. )

A momento sagrado

Waking Life: Capítulo 11 - O MomentCinema Santo, em sua essência, é, bem, é uma introdução sobre a realidade, o que é que, como a realidade é hoje reproduzida. E para ele, poderia soar como um meio de contar histórias, realmente. E ele sente-se como hum ... como ... como ... como a literatura é melhor para contar uma história. Você sabe, e se você contar uma história ou até mesmo como uma brincadeira, como você sabe "Esse cara entra num bar e, você sabe, ele vê um anão." Isso funciona muito bem porque você está imaginando esse cara e esse anão no bar e não há este tipo de aspecto imaginativo. Mas no filme, você não tem isso porque na verdade você está filmando um homem específico, em um bar específico, com um anão específico, de uma altura específica, que parece uma certa maneira, certo?

Assim como, um, para Bazin, a ontologia do filme tem que fazer é que tem de lidar, você sabe, com o que a fotografia também tem uma ontologia, exceto que ele adiciona esta dimensão de tempo para ele, e este maior realismo . E assim, como, é sobre esse cara, naquele momento, naquele espaço. E, você sabe, Bazin é como um cristão, para ele, assim como, acredita que, você sabe, Deus, obviamente, acabou como tudo ... ele acredita, a realidade para ele e Deus são a mesma coisa. Você sabe, como ... e assim o filme é realmente a captura é como Deus encarnado, a criar. E neste exato momento, Deus está se manifestando como este. E o que o filme iria capturar se ele estava filmando nós agora seria como Deus, como este quadro, e Deus como você, e Deus, como eu, Deus e procurando a maneira como vemos agora, e dizer e pensar o que estamos pensando agora, porque todos nós somos Deus manifestado nesse sentido. Assim como o filme é na verdade um registro de Deus, ou do rosto de Deus, ou do rosto sempre em mutação de Deus. Você tem um mosquito. Você quer que eu fazer isso para você? É isso aí.

Eu tenho?

Sim, você entendeu.

E como a coisa toda é apenas Hollywood tendo filme e tentar fazê-lo como o meio de histórias, onde você toma estes livros e histórias, e então você gosta, sabe, e então você tem o script, e tenta encontrar uma pessoa que se encaixa no tipo de coisa. Mas é ridículo, porque não é, não deve ser baseado no roteiro. Deve basear-se na pessoa, você sabe, ou a coisa. E nesse sentido, eles são quase certo para ter este sistema estelar inteiro, porque, então, é sobre essa pessoa, você sabe, em vez de, como, a história.

Truffaut sempre disse que os melhores filmes não são feitos ... os filmes ... Os melhores scripts não fazem os melhores filmes, porque eles têm esse tipo de coisa narrativa literária que você está uma espécie de escravo. Os melhores filmes são aqueles que não estão vinculados a esta concepção. Então eu não sei. A coisa toda narrativa parece-me que, um ... Obviamente, há narratividade no cinema porque é o tempo, do jeito que não há narratividade na música. Mas, você sabe, você não pensa em primeiro da história da música e, em seguida fazer a música. Tem que sair naquele momento. E esse é o filme. É apenas nesse momento, que é santo. Você sabe, como neste momento, é sagrado. Mas nós andamos por aí como ele não é santo. Nós andamos por aí como há alguns momentos sagrados e há todos os outros momentos que não são santos, para a direita, mas neste momento é santo, né? E se o filme deixa-nos ver que, assim como enquadrá-lo assim que vemos, como: "Ah, este momento. Santo". E é como "Santo, santo, santo" momento a momento. Mas, como, quem pode viver assim? Que pode ir tipo, "Wow", santa? Porque se eu estava a olhar para você e realmente deixar você ser santo, eu não sei, eu, assim, parar de falar.

Bem, você pode estar no momento, eu quero dizer ....

Sim

O momento é sagrado.

Sim, mas eu estaria livre. E então eu olho em seus olhos, e eu choro, e eu gostaria de sentir tudo isso e que como não educado. Quero dizer que iria fazer você se sentir desconfortável.

Bem que você poderia rir. Quero dizer, por que você iria chorar?

Bem, porque ... Eu não sei. Para mim, tendem a chorar.

Uh-huh. Bem ... É, está cheio ...

Bem, vamos fazê-lo agora. Vamos ter um momento sagrado.

Okay.

(Passar longos momentos com eles a olhar para si)

Tudo é camadas, não é?

Sim.

Quer dizer, não é o momento sagrado e, em seguida, há a consciência de tentar ter o momento sagrado, da mesma maneira que o filme é o momento atual realmente está acontecendo, mas o personagem que finge ser uma realidade diferente. E é todas essas camadas. E, uh, eu estava dentro e fora do momento sagrado olhando para você. Não pode ser um santo ... Você é único dessa maneira, Caveh. Essa é uma das razões pelas quais eu gosto de você. Você pode ... trazer-me para isto.

(Eles se transformam em pessoas nuvem olhando uns para os outros)

***

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Do Sagrado e a des-limitação das fronteiras [2]

"Nesse campos de energia quase desconhecidos existem impulsos que nos guiam para a 'qualidade'. Todos os impulsos humanos direcionados para o que chamamos, de modo impreciso e canhestro, de 'qualidade' provêm de uma fonte cuja verdadeira natureza é totalmente desconhecida, mas que somos perfeitamente capazes de reconhecer quando se manifesta em nós ou nos outros. Ela não se comunica por sons ou ruídos, mas através do silêncio. É o que chamamos - já que temos que usar palavras - de 'sagrado'."

Sempre tive muito medo desta palavra "sagrado" . Faz muito tempo que li "A Porta Aberta" e é engraçado como algumas coisas só vão fazer sentido tempos depois. Tem um trecho da "A insustentável Leveza do ser" do Milan Kundera, que aaaa sabe quando alguém escreve tudo que você está pensando mas com palavras mais adequadas e claras, é isso.

"Nossa vida quotidiana é bombardeada de acasos, mais exatamente encontros fortuitos entre as pessoas e os acontecimentos aquilo que chamamos de coincidências. Existe coincidência quando dois acontecimentos inesperados acontecem ao mesmo tempo, quando eles se encontram: Tomas aparece no restaurante no momento em que o rádio toca Beethoven. Na sua imensa maioria, essas coincidências passam completamente despercebidas. Se o açougueiro da esquina tivesse vindo sentar à mesa do restaurante em vez de Tomas, Tereza não teria notado que o rádio tocava Beethoven. (Se bem que o encontro de Beethoven com um açougueiro seja também uma curiosa coincidência.) Mas o amor nascente aguçou nela a percepção da beleza, e ela ja mais esquecerá essa música. Toda vez que a ouvir, tudo que acontecer em torno dela, nesse momento, ficará impregna do com seu brilho.
No princípio do pesado livro que Tereza carregava embaixo do braço no dia em que viera para a casa de Tomas, Ana encontra Vronsky em circunstâncias estranhas. Estão na plataforma de uma estação e alguém acabara de cair sob o trem. No fim do romance, é Ana que se atira sob um trem. Essa composição simétrica, onde o mesmo motivo aparece no começo e no fim, pode parecer até romântica. Admito que seja, mas somente com a condição de que romântico não signifique para você uma coisa inventada , artificial , sem semelhança com a vida.
Porque é assim mesmo que é composta a vida humana. Ela é composta como uma partitura musical. O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, transpõe o acontecimento fortuito (uma música de Beethoven, a morte numa estação) para fazer disso um tema que, em seguida, fará parte da partitura de sua vida. Voltará ao tema, repetindo o, modificando-o, desenvolvendo-o e transpondo-o, como faz um compositor com os temas de sua sonata. Ana poderia ter posto fim a seus dias de outra maneira. Mas o tema da estação e da morte, esse tema inesquecível associado ao nascimento do amor, atraiu-a no momento do desespero por sua sombria beleza. O homem inconscientemente põe sua vida segundo as leis da beleza mesmo nos instantes do mais profundo desespero.
O romance não pode, portanto, ser censurado por seu fascínio pelos encontros misteriosos dos acasos (como o encontro de Vronsky, de Ana, da estação e da morte, ou o encontro de Beethoven, de Tomas, de Tereza e do copo de conhaque), mas podemos, com razão, censurar o homem por ser cego a esses acasos na vida quotidiana, privando assim a vida da sua dimensão de beleza."

Pra mim é nesta "dimensão de beleza" que está o sagrado.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Do sagrado e a des-limitação das fronteiras


Sempre estou lendo algo. Atualmente me encanto com a leitura de A Porta Aberta, de Peter Brook, que aborda algumas questões sobre o evento teatral e diversas de suas implicações.
Sexta-feira eu tinha tempo sobrando e continuei a lê-lo. Qual não foi minha surpresa quando ele começa a falar do "teatro sagrado" e do que significa esse "sagrado".
Resolvi compartilhar isso com vocês, meus queridos, pois acho que acrescenta muito à discussão que fazíamos sobre. E arté é arte, e embora Brook fale sobre teatro acredito muito na não-separação das coisas também nela.

"Teatro sagrado' implica a existência de algo mais, abaixo, em volta e acima, uma outra zona ainda mais invisível, ainda mais distante das formas que conseguimos identificar ou registrar, e que contém fontes de energia extremamente poderosas.

Nesse campos de energia quase desconhecidos existem impulsos que nos guiam para a 'qualidade'. Todos os impulsos humanos direcionados para o que chamamos, de modo impreciso e canhestro, de 'qualidade' provêm de uma fonte cuja verdadeira natureza é totalmente desconhecida, mas que somos perfeitamente capazes de reconhecer quando se manifesta em nós ou nos outros. Ela não se comunica por sons ou ruídos, mas através do silêncio. É o que chamamos - já que temos que usar palavras - de 'sagrado'.

(...)Ou bem o sagrado está presente sempre, ou não existe. É ridículo pensar que o sagrado existe no topo da montanha e não no vale, no domingo ou no shabbath mas não no resto da semana.

(...)Se o momento presente for acolhido de modo particularmente intenso (...) a fugidia centelha da vida pode despontar no som certo, no gesto certo, no olhar e na reação certas. Assim, em mil formas totalmente inesperadas, o invisível pode aparecer. Quem anseia pelo sagrado deve procurar com atenção.
(...)

O sagrado é uma transformação qualitativa do que originalmente não era sagrado. O teatro baseia-se em relações entre seres humanos que, por serem humanos, não são sagrados por definição. A vida de um ser humano é o visível através do qual o invisível pode aparecer. "