sexta-feira, 30 de setembro de 2011

hoje doeu fundo. e, na hora de voltar pra casa, mais que nunca, não havia casa pra voltar.

sábado, 24 de setembro de 2011

votos de renovação

Eu subo no palco novamente. Para novamente dançar o que já dancei tantas vezes, mas que nunca se fixa, está sempre a mudar. Desta vez estou estrangeira. A expectativa se encontra na comunicabilidade da arte que escolhi fazer e compartilhar com o mundo. Como as pessoas irão receber a minha dança? Que espécie de relações irão construir comigo? O que realmente tenho a oferecer que ultrapassa qualquer entendimento linguístico ou cultural? O movimento e a paixão. O corpo definitivamente não tem fronteiras ou territórios marcados. Ele transita, ele está aqui e acolá. Os aplausos contínuos transmitem a vibração sensível de uma experiência que transborda os limites do inteligível. Eu deixo o palco retomando no peito uma sensação antiga de quando descobri a potência da dança pela primeira vez. E de novo reforço, consciente, o que naquela época foi apenas uma descoberta: quero e preciso fazer isso para o resto da vida.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Voo 355 CWB - POA (à 850 km/h)

 O mundo corre por baixo de mim. Terras que não conheço, paisagens que nunca vi, ares que não respirei.
Estar em nenhum lugar. Passando - e muito rapidamente - por todos eles. E como única certeza (e ainda se pode falar em certeza?), a de se estar no mundo.
Um mundo de possibilidades várias.
Eu flutuo por sobre as coisas... Estou no ar. Em todos os sentidos.
Porque
Eu quero lugares que a princípio não me cabem. Eu quero amores para os quais eu sou inapta. E a solidão, minha natureza de ser errante. Errando vou. Pela vida. Pelas estradas com árvores nos cantos.
A cidade tem veias como a de um vulcão.
Esse céu é tão lindo quase de se chorar..
Acima das nuvens as estrelas fazem companhia.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

******Sobre andar

Ande.
Como se o mundo esquecesse você.
Como se você identificasse sua transitoriedade.
Como se aprendesse que não há ninguém olhando você e nunca houve.
Você pensa apenas em dirigir, não vindo de lugar nenhum, não chegando em lugar nenhum.
Apenas dirigir.
Contando o tempo.

(Charlie Kaufman)

*****Sobre não ter um lugar, uma casa

Eu receio que esteja gravemente doente. São, talvez, momentos como esses que refletimos sobre coisas passadas.
Um artigo de vestuário de quando eu era jovem.
Uma jaqueta verde.
Um passeio com meu pai.
Um jogo que uma vez jogamos: Fingir que somos fadas. Eu sou uma menina fada, e meu nome é Lauralee. E você é um garoto fada, e seu nome é Teetery. Quando fingimos ser fadas, nós lutamos um com o outro.
E eu digo: "Pare de me bater ou eu morrerei". E você me bate de novo, e eu digo: "Agora eu tenho que morrer". E você diz: "Mas eu sentirei sua falta". E eu digo: “Mas eu tenho.”
E você terá que esperar um milhão de anos para me ver novamente.
E eu serei colocada numa caixa... E tudo que vou precisar é um pequeno copo d'água... E um monte de pequenos pedaços de pizza.
E a caixa terá asas como um avião. E você pergunta: “onde isso a levará?"
“Para casa”, eu digo.


(Charlie Kaufman)

Sobre não estar ou sobre não ser*

*Ou talvez o título seja: Sobre apenas estar. Sobre apenas ser.**

** Ou talvez o título seja: Sobre não-lugares.***

*** Ou talvez o título seja: Sobre anti-territórios, sobre anti-fixação, sobre estar no meio, estar entre, estar no caos.****

**** Ou talvez não seja nada, nem um título.

Olhando agora, eu percebo que o que me interessa nesta história toda é não estabilizar, o que me interessa é a transitoriedade, a necessidade de mover as coisas pra lugares afixos, movediços e errantes. Não fixar, não estar em busca de nada, não ter metas, não ter. Não ser. Ser passagem, ser fluxo, ser cosmopolita em todos os sentidos que cabem a palavra. E que também não cabem.

Deixar tudo virar nada, virar ar, virar fumaça.
Ir passando, e se deteriorando a cada lugar, a cada movimento, deixando ao mundo os sinais da sua efemeridade existente, insistente.

Ou...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

sobre o ato de caminhar

"cada lugar se comunica instantaneamente com todos os outros, não experimentamos isolamento a não ser no trajeto de um lugar a outro, isto é, quando não estamos em nenhum lugar"

Italo Calvino em Se um viajante numa noite de inverno