quarta-feira, 29 de setembro de 2010

toda a sexta. todo dia

é incrivel, como quando a gente faz alguma coisa que a gente não acreditava fazer e faz e o nosso corpo se sente tão bem. então imagina fazer duas coisas (elimine o cronologico) e fazer duas coisas e seu corpo depois. e seu corpo depois? é como se ele se movimentasse por conta, fizesse, e simplismente existisse. ele fica assim. disse. faça. que a sensação é tão boa que você pinta quadro já pintado . as coisas são tão simples. a vida está agora e não foi ou será; sera? oh, será? até acerto o acento. chorar faz sentido e os espaços no meu corpo fazem sentido. ser faz sentido. eu faz sentido. nois, noiz, noz, fazemos sentido. é incrivel. é incrivel. 

o questionamento leva a frente.

a cultura que não é minha é minha. chorar faz sentido. sorrir pros que gostam.
eu gosto.

não pare seu corpo por favor, não pare. o todo. sorrir faz sentido.
eu amo voce. se deixando. com o olhar interferindo. 

sinto saudades. mas porque? voce esta em mim.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Atoº 507 - Os sentidos

Todos os sábados de manhã ia buscar o mar no fundo da concha. Encostava a vulva nacarada ao ouvido, fechava os olhos, e durante horas ficava ouvindo as ondas, perdido até sentir o gosto de sal.
Faltava porém alguma coisa.
Procurou nos anúncios de jornal, nas revistas espacializadas, escreveu cartas. Por fim conseguiu o que queria.
Agora aos sábados de manhã veste o calção, senta no sofá e, enquanto a mão direira segura a concha junto ao rosto, a esquerda puxa a corrente presa ao pé da gaivota para que ela grite estrídula, canto de liberdade sobre espumas.

A Morada do Ser - Marina Colasanti

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ausências - Sarah Kane


“C – Um estacionamento vazio de onde eu não consigo sair.
B – O medo retumba sobre o céu da cidade.
M – A ausência dorme entre os edifícios à noite,
C – Entre os carros no acostamento,
B – Entre o dia e a noite.
A – Tenho que estar onde devo estar.
B – Deixe
C – Eu
M – Ir
A – O mundo lá fora está supervalorizado.

(retirado da peça "Crave" de Sarah Kane)


"Feita para ser sozinha
Para amar a ausência

Me encontre
Me liberte
Desta
dúvida corrosiva
desespero fútil
horror em repouso

Eu posso ocupar meu espaço
ocupar meu tempo
mas nada pode ocupar o vazio de meu coração

A necessidade vital pela qual eu morreria

Esgotamento
"

(Trechos da peça Psicose 4.48 - Sarah Kane)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

http://strivinglife.com/words/post/Waking-Life-Chapter-11---The-Holy-Moment.aspx

com google tradutor (ingles to portuguese):
(Nós entramos em um cinema onde, na tela, vemos um filme de dois homens que estão falando um com o outro. O primeiro orador é cineasta Caveh Zahedi - à direita na imagem abaixo - eo segundo é o poeta David Jewell. )

A momento sagrado

Waking Life: Capítulo 11 - O MomentCinema Santo, em sua essência, é, bem, é uma introdução sobre a realidade, o que é que, como a realidade é hoje reproduzida. E para ele, poderia soar como um meio de contar histórias, realmente. E ele sente-se como hum ... como ... como ... como a literatura é melhor para contar uma história. Você sabe, e se você contar uma história ou até mesmo como uma brincadeira, como você sabe "Esse cara entra num bar e, você sabe, ele vê um anão." Isso funciona muito bem porque você está imaginando esse cara e esse anão no bar e não há este tipo de aspecto imaginativo. Mas no filme, você não tem isso porque na verdade você está filmando um homem específico, em um bar específico, com um anão específico, de uma altura específica, que parece uma certa maneira, certo?

Assim como, um, para Bazin, a ontologia do filme tem que fazer é que tem de lidar, você sabe, com o que a fotografia também tem uma ontologia, exceto que ele adiciona esta dimensão de tempo para ele, e este maior realismo . E assim, como, é sobre esse cara, naquele momento, naquele espaço. E, você sabe, Bazin é como um cristão, para ele, assim como, acredita que, você sabe, Deus, obviamente, acabou como tudo ... ele acredita, a realidade para ele e Deus são a mesma coisa. Você sabe, como ... e assim o filme é realmente a captura é como Deus encarnado, a criar. E neste exato momento, Deus está se manifestando como este. E o que o filme iria capturar se ele estava filmando nós agora seria como Deus, como este quadro, e Deus como você, e Deus, como eu, Deus e procurando a maneira como vemos agora, e dizer e pensar o que estamos pensando agora, porque todos nós somos Deus manifestado nesse sentido. Assim como o filme é na verdade um registro de Deus, ou do rosto de Deus, ou do rosto sempre em mutação de Deus. Você tem um mosquito. Você quer que eu fazer isso para você? É isso aí.

Eu tenho?

Sim, você entendeu.

E como a coisa toda é apenas Hollywood tendo filme e tentar fazê-lo como o meio de histórias, onde você toma estes livros e histórias, e então você gosta, sabe, e então você tem o script, e tenta encontrar uma pessoa que se encaixa no tipo de coisa. Mas é ridículo, porque não é, não deve ser baseado no roteiro. Deve basear-se na pessoa, você sabe, ou a coisa. E nesse sentido, eles são quase certo para ter este sistema estelar inteiro, porque, então, é sobre essa pessoa, você sabe, em vez de, como, a história.

Truffaut sempre disse que os melhores filmes não são feitos ... os filmes ... Os melhores scripts não fazem os melhores filmes, porque eles têm esse tipo de coisa narrativa literária que você está uma espécie de escravo. Os melhores filmes são aqueles que não estão vinculados a esta concepção. Então eu não sei. A coisa toda narrativa parece-me que, um ... Obviamente, há narratividade no cinema porque é o tempo, do jeito que não há narratividade na música. Mas, você sabe, você não pensa em primeiro da história da música e, em seguida fazer a música. Tem que sair naquele momento. E esse é o filme. É apenas nesse momento, que é santo. Você sabe, como neste momento, é sagrado. Mas nós andamos por aí como ele não é santo. Nós andamos por aí como há alguns momentos sagrados e há todos os outros momentos que não são santos, para a direita, mas neste momento é santo, né? E se o filme deixa-nos ver que, assim como enquadrá-lo assim que vemos, como: "Ah, este momento. Santo". E é como "Santo, santo, santo" momento a momento. Mas, como, quem pode viver assim? Que pode ir tipo, "Wow", santa? Porque se eu estava a olhar para você e realmente deixar você ser santo, eu não sei, eu, assim, parar de falar.

Bem, você pode estar no momento, eu quero dizer ....

Sim

O momento é sagrado.

Sim, mas eu estaria livre. E então eu olho em seus olhos, e eu choro, e eu gostaria de sentir tudo isso e que como não educado. Quero dizer que iria fazer você se sentir desconfortável.

Bem que você poderia rir. Quero dizer, por que você iria chorar?

Bem, porque ... Eu não sei. Para mim, tendem a chorar.

Uh-huh. Bem ... É, está cheio ...

Bem, vamos fazê-lo agora. Vamos ter um momento sagrado.

Okay.

(Passar longos momentos com eles a olhar para si)

Tudo é camadas, não é?

Sim.

Quer dizer, não é o momento sagrado e, em seguida, há a consciência de tentar ter o momento sagrado, da mesma maneira que o filme é o momento atual realmente está acontecendo, mas o personagem que finge ser uma realidade diferente. E é todas essas camadas. E, uh, eu estava dentro e fora do momento sagrado olhando para você. Não pode ser um santo ... Você é único dessa maneira, Caveh. Essa é uma das razões pelas quais eu gosto de você. Você pode ... trazer-me para isto.

(Eles se transformam em pessoas nuvem olhando uns para os outros)

***

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Do Sagrado e a des-limitação das fronteiras [2]

"Nesse campos de energia quase desconhecidos existem impulsos que nos guiam para a 'qualidade'. Todos os impulsos humanos direcionados para o que chamamos, de modo impreciso e canhestro, de 'qualidade' provêm de uma fonte cuja verdadeira natureza é totalmente desconhecida, mas que somos perfeitamente capazes de reconhecer quando se manifesta em nós ou nos outros. Ela não se comunica por sons ou ruídos, mas através do silêncio. É o que chamamos - já que temos que usar palavras - de 'sagrado'."

Sempre tive muito medo desta palavra "sagrado" . Faz muito tempo que li "A Porta Aberta" e é engraçado como algumas coisas só vão fazer sentido tempos depois. Tem um trecho da "A insustentável Leveza do ser" do Milan Kundera, que aaaa sabe quando alguém escreve tudo que você está pensando mas com palavras mais adequadas e claras, é isso.

"Nossa vida quotidiana é bombardeada de acasos, mais exatamente encontros fortuitos entre as pessoas e os acontecimentos aquilo que chamamos de coincidências. Existe coincidência quando dois acontecimentos inesperados acontecem ao mesmo tempo, quando eles se encontram: Tomas aparece no restaurante no momento em que o rádio toca Beethoven. Na sua imensa maioria, essas coincidências passam completamente despercebidas. Se o açougueiro da esquina tivesse vindo sentar à mesa do restaurante em vez de Tomas, Tereza não teria notado que o rádio tocava Beethoven. (Se bem que o encontro de Beethoven com um açougueiro seja também uma curiosa coincidência.) Mas o amor nascente aguçou nela a percepção da beleza, e ela ja mais esquecerá essa música. Toda vez que a ouvir, tudo que acontecer em torno dela, nesse momento, ficará impregna do com seu brilho.
No princípio do pesado livro que Tereza carregava embaixo do braço no dia em que viera para a casa de Tomas, Ana encontra Vronsky em circunstâncias estranhas. Estão na plataforma de uma estação e alguém acabara de cair sob o trem. No fim do romance, é Ana que se atira sob um trem. Essa composição simétrica, onde o mesmo motivo aparece no começo e no fim, pode parecer até romântica. Admito que seja, mas somente com a condição de que romântico não signifique para você uma coisa inventada , artificial , sem semelhança com a vida.
Porque é assim mesmo que é composta a vida humana. Ela é composta como uma partitura musical. O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, transpõe o acontecimento fortuito (uma música de Beethoven, a morte numa estação) para fazer disso um tema que, em seguida, fará parte da partitura de sua vida. Voltará ao tema, repetindo o, modificando-o, desenvolvendo-o e transpondo-o, como faz um compositor com os temas de sua sonata. Ana poderia ter posto fim a seus dias de outra maneira. Mas o tema da estação e da morte, esse tema inesquecível associado ao nascimento do amor, atraiu-a no momento do desespero por sua sombria beleza. O homem inconscientemente põe sua vida segundo as leis da beleza mesmo nos instantes do mais profundo desespero.
O romance não pode, portanto, ser censurado por seu fascínio pelos encontros misteriosos dos acasos (como o encontro de Vronsky, de Ana, da estação e da morte, ou o encontro de Beethoven, de Tomas, de Tereza e do copo de conhaque), mas podemos, com razão, censurar o homem por ser cego a esses acasos na vida quotidiana, privando assim a vida da sua dimensão de beleza."

Pra mim é nesta "dimensão de beleza" que está o sagrado.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Do sagrado e a des-limitação das fronteiras


Sempre estou lendo algo. Atualmente me encanto com a leitura de A Porta Aberta, de Peter Brook, que aborda algumas questões sobre o evento teatral e diversas de suas implicações.
Sexta-feira eu tinha tempo sobrando e continuei a lê-lo. Qual não foi minha surpresa quando ele começa a falar do "teatro sagrado" e do que significa esse "sagrado".
Resolvi compartilhar isso com vocês, meus queridos, pois acho que acrescenta muito à discussão que fazíamos sobre. E arté é arte, e embora Brook fale sobre teatro acredito muito na não-separação das coisas também nela.

"Teatro sagrado' implica a existência de algo mais, abaixo, em volta e acima, uma outra zona ainda mais invisível, ainda mais distante das formas que conseguimos identificar ou registrar, e que contém fontes de energia extremamente poderosas.

Nesse campos de energia quase desconhecidos existem impulsos que nos guiam para a 'qualidade'. Todos os impulsos humanos direcionados para o que chamamos, de modo impreciso e canhestro, de 'qualidade' provêm de uma fonte cuja verdadeira natureza é totalmente desconhecida, mas que somos perfeitamente capazes de reconhecer quando se manifesta em nós ou nos outros. Ela não se comunica por sons ou ruídos, mas através do silêncio. É o que chamamos - já que temos que usar palavras - de 'sagrado'.

(...)Ou bem o sagrado está presente sempre, ou não existe. É ridículo pensar que o sagrado existe no topo da montanha e não no vale, no domingo ou no shabbath mas não no resto da semana.

(...)Se o momento presente for acolhido de modo particularmente intenso (...) a fugidia centelha da vida pode despontar no som certo, no gesto certo, no olhar e na reação certas. Assim, em mil formas totalmente inesperadas, o invisível pode aparecer. Quem anseia pelo sagrado deve procurar com atenção.
(...)

O sagrado é uma transformação qualitativa do que originalmente não era sagrado. O teatro baseia-se em relações entre seres humanos que, por serem humanos, não são sagrados por definição. A vida de um ser humano é o visível através do qual o invisível pode aparecer. "

domingo, 5 de setembro de 2010

pra´gora

corpo com percepção e espontaneidade

dramaturgia da necessidade

du desejo

vou em quem sou

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Momentos sagrados

"O que nós vemos das coisas são as coisas.
Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludir-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa. [...]"

(Alberto Caeiro)

* Ou seria, como disse o Gab Machado, a não separação das ações? Ver, ouvir, pensar, estar: ações que coexistem na presença dançante que hoje buscamos enquanto artistas e criadores.

Aí vai o link do Waking Life. Eles retiraram a cena The Holy Moment do youtube por questões autorais. Só consegui essa versão legendada em uma língua muito louca. Espero que consigam ao menos captar a essência das imagens:

http://www.youtube.com/watch?v=qkgtEXcFNfU