domingo, 26 de dezembro de 2010

Já não sou um quarto vazio

Habitam-me todo o tipo de antíteses e leves desesperos. Desacordo minhas velhas reentrâncias. Debruço esperanças sobre o parapeito, quero olhar pra baixo, mas é alto daqui e não vejo o fim.

Sou agora um labirinto penetrado por visitantes que deixei entrar. Deixei que me aparassem as arestas, a fim de abrir-lhes os caminhos. Entram pelas brechas frágeis, carregadas de febre e loucura, quebram todo o meu antigo desamor em pequenos cacos, a rasgar-me a pele . Desabam minhas mentiras construídas de concreto pelo chão. Desnudam-me em verso e prosa.

E no fim, esse fim que já nem existe, que não pode ser meu, meu, meu, teu, teu, nosso, esse fim que não tem nome, acabando sem acabar, já não sou uma casa vazia, desabitada, não mais destenho. Tenho agora meus cômodos preenchidos e uma mão para segurar.

[Amanda Leal]

Texto de uma amiga minha do Pé no Palco, que inspirada em nosso Parapeito escreveu este texto.

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