Apt° 601
Não tolerava invasões do seu espaço. Tinha sua poltrona, sua mesinha, sua luz. Que ninguém se aproximasse quando ali se encastelava.
Mas a mulher teimava em atravessar por cima de seus pés, os filhos insistiam em procurar-lhe o colo.
Advertiu-os com um biombo, divisória entre o que era seu e o que era comum. Porém, os sons invadiam sua privacidade e a televisão varava treliças.
Substituiu o biombo por um muro, construção maciça alcançando o teto. Aferrolhou a porta que franqueava o muro.
Batia à porta a mulher chamando para o telefone. Batiam os filhos pedindo dinheiro. A empregada batia.
Durante semanas escavou o fosso, durante semanas carregou água. A ponte foi mais rápida. Depois de dias de pregos e martelo, bastou puxar a corda para que, num ranger de polias, se erguesse intransponível.
Dançamos o isolamento, de um homem... ou dois, ou três.
Do arejado ao sufocado.
Num ambiente hostil desenvolve-se a crise. A fisicalidade ganha tônus num duo espelhado.
Reconhecimento do entorno e do desgosto.
O espaço se comprime e aperta as reflexões.
Um homem que se encontra consigo mesmo - quando não há mais para onde ir, para onde ir?
Em construção.
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