terça-feira, 9 de novembro de 2010

Apto 407
"Quando a televisão morreu esvaindo-se aos poucos em meio à frase do herói, assustou-se. Há muito ela esquecera transistores e circuitos. A televisão simplesmente vivia sua vida. E agora ali estava, sem luz e sem som, fria no meio da sala.
Ausência à qual não podia se submeter.
Trabalhou a noite inteira com o material trazido da rua. Primeiro remover a tampa, precisão de chave de fenda. Depois esvaziar o ventre, retirar fios, placas, conexões. Limpar a cavidade. Na caixa escura instalar as lâmpadas, ligar os fios, o interruptor. E ajustar, com amor e cuidado, o espelho de pontas arredondadas, exata medida do vídeo.
Tudo pronto a seu lado antes de começar o dia. Três minutos antes das sete, maquilagem perfeita. Dois minutos antes das sete, impecável blusa cor-de-rosa. Um minuto antes das sete, colar a postos. Sete horas precisas. Sentada diante do espelho liga o interruptor. Luzes. Brilha o espelho. Sua imagem no seu ar. Ação.
Sorrindo ela mergulha a colher no Danone que alimenta. Suspirando bebe Guaraná da vitória. Halitando brilha Kolinos, ahhhh. E mastiga Plus Vita. E esfrega Bom -Bril. E limpa com Fúria. E fuma fuma fuma lavando em espumas seus cabelos, tomando banhos refrescantes, estrela dos próprios comerciais, dona de uma programação que só a ela obedece."
*
Ela não vê a hora que seu momento chegue. Está pronta. À espera de uma oportunidade. Sua vida é na TV, esta é sua realidade.
Tudo ainda é ficção, mas amanhã quem sabe: - Serei estrela dos próprios comerciais!

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