Fim de tarde cansado e vermelho. Naquele edifício fosco como uma muralha, homens e mulheres de volta do trabalho retomam seu viver doméstico.
Movem -se nos quartos, banheiros, salas e cozinhas, geometricamente superpostos, abelhas de um estranho alveário em que cada alvéolo ignora o vizinho. Ninguém chega à janela. As televisões estão ligadas.
Assim mesmo, muitos ouvem quando um acrobata de malha prateada despenca com um grito no meio do pátio.
Reunidos em espanto ao redor da rara estrela ensanguentada que ilumina o cimento, alguns levantam a cabeça. Só então percebem o fio esticado no alto, caminho improvável entre dois prédios, risco de faca cortando o céu que escurece.
Marina Colasanti - Contos de Amor Rasgados.
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