sexta-feira, 20 de agosto de 2010

"O corpo artista"

"O corpo muda de estado cada vez que percebe o mundo. E o corpo artista é aquele em que aquilo que ocorre ocasionalmente como desestabilizador de todos os outros corpos (acionando o sistema límbico) vai perdurar. Não porque ganhará permanência neste estado, o que seria uma impossibilidade, uma vez que sacrificaria a sua própria sobrevivência. Mas o motivo mais importante é que desta experiência, necessariamente arrebatadora, nascem metáforas imediatas e complexas que serão, por sua vez, operadores de outras experiências sucessivas, prontas a desestabilizar outros contextos (corpos e ambientes) mapeados instantaneamente de modo que o risco tornar-se-á inevitavelmente presente. (...)
'Umedecendo silenciosamente a raiz do tempo', como sugere o poeta Yoshimasu, percebe-se que sempre foi assim. O que muda é a possibilidade que a arte, a ciência e a filosofia têm nos mostrado nos últimos anos, mas poucos conseguiram enxergar com clareza: é da experiência que emerge a conceituação e não o contrário. As fronteiras entre o corpo e as teorias do corpo estão definitivamente implodidas. Mas para testar essa hipótese não basta estar vivo. É preciso fazer da vida um exercício político de produção sígnica e partilhamento do saber.
Tudo isso tem motivos de sobre para acontecer, mas é principalmente para não romper a natureza própria ao corpo e perecer diante da estagnação e da falta de amor."

Christine Greiner - O Corpo

3 comentários:

  1. "é da experiência que emerge a conceituação e não o contrário" - já falava Larroza Bon dia!

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  2. "é o ser social que determina a consciência e não o contrário" - já falava Karl Marx (hehehe)

    são coisas distintas, mas me parece que andam por caminhos parecidos...

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  3. Uhuuuuuu, adorei Gab. Assim que a gente se entende!!! Tha, que delícia ver que essa referência ainda faz parte da sua história.
    Mari, que beleza de texto. Tenho este livro em casa, mas já faz tanto tempo que o li que me surpreendi hoje com as suas conexões. Boa, garota!!! Morro de orgulho de vocês, meus bailarinos dançantes/pensantes.

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