segunda-feira, 21 de novembro de 2011

duma viagem, duma bagagem, dum algo que não cala - que não quer calar

Esse foi o ano no qual mais viajei. Conheci tantos tantos lugares novos, terras que ate então não sabia que existiam e como. Fiz belas, longas, curtas e dolorosas viagens. Fui, em muitas delas, com a mala vazia. E, apenas, disponível. disposta a encontrar o que quer que fosse, porem sem expectativas. Há uma, em particular, que sim atingiu um grau de desterritorialização e desorganização profundo.
Dei o primeiro passo e entrei nessa estrada com as mãos livres, a mala leve, o coração vazio. Dispus-me a caminhar. Percorrendo um trajeto que, sim eu sabia, seria inapreensível e intransitável uma segunda vez. Um trajeto que, em suma, não teria volta e que, de alguma maneira se fechava a cada passo que eu dava. e quanto mais eu andava mais ele se alargava à frente. Porém não me era permitido olhar para trás. Não me era permitido olhar para trás sem que isso - que me fechava e não me permita voltar - me ferisse. Sim; olhar para trás era como uma ferida.

Eu seguia, pois. E seguia feliz. E ainda disponível. E ainda disposta a estar sempre, com generosidade. Aos poucos  e sem perceber enchia-me de pequenas coisas, instantes partilhados, momentos descobertos. Enchia-se minha mala. Avolumava-se meu coração.
Eu segui por veredas nem sempre tão lógicas. Tive também que cortar arbustos para poder passar - apenas minha flexibilidade às vezes não era suficiente.
Fui carregando coisas pelo caminho. Fui me agarrando em lembranças como se elas pudessem fazer com que eu voltasse naquele ponto da estrada que muito me encantava mas que já estava engolido por um material intransponível. Eu, tola, muitas vezes insistia (e, ah, insisto ainda) em dar passos que conduzissem a um lugar que eu constantemente construía de acordo com os passos de quem me acompanhava. Pois, sim, às vezes havia companhia.
Mas eu sempre estive sozinha. Custava acreditar, custava admitir isso pra mim mesma mas eu sempre estive sozinha. O conforto, passageiro, do passante que por vezes seguia comigo me esmagava, justamente por ser passageiro, em minha natureza de para sempres.
Mas o passante tinha sua própria estrada. E nem sempre estava disposto a alterar sua rota para caminhar comigo. E eu, tampouco, nem sempre podia abrir mão de minhas vontades para seguir num outro rumo. Mas, nessa viagem, eu abri. Eu abri mão de minhas certezas, eu abri mão de um caminho bem traçado, eu imergi no desconhecido. Eu me pus a caminhar sem a certeza da chegada. E construí cada passo como algo novo - e realmente foi. Cada passo foi o inesperado. E o caminho me oferecia muitas coisas nas quais me agarrar. Eu enchi minha mala. E essa mala história passou também a me guiar. a guiar essa minha espera de um futuro com[partido].


No entanto, surgiam indícios. Não adianta dizer que não. Eles estavam ali o tempo todo e talvez eu mesma tenha ajudado a construí-los. Mas surgiram indícios de que havia uma falha grande nesse território, um quase abismo comprimido.
Mas eu me recusava a olhar - e a cada recusa ele aumentava e aumentava e aumentava até o ponto em que tudo ficou insustentável e passou a cair. Meu mundo começou a desmoronar. Eu desmoronei. A minha mala se foi e com ela o meu futuro arbitrariamente por mim mesma construído.








Minha mala hoje - uma caixinha de lembranças - guarda ainda alguns recuerdos. Um envelope com um convite dentro, uma embalagem de um chocolate, uma entrada de cinema de um filme visto há muito tempo, o ingressos de um espetáculo esperado, umas palavras, biutiful, as passagens das viagens feita nessa, tão grande, que tudo abarca. Não são muitas coisas. Apenas alguns papeis que, por si, pouco significam. Mas que ganham dimensões inimagináveis quando olhadas com  o olhar-bagagem de meu coração.

Um comentário:

  1. Que lindo Mari!! Você tem o poder de reunir palavras simples e com elas gerar depoimentos belos e profundos!

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