segunda-feira, 25 de outubro de 2010
domingo, 17 de outubro de 2010
Stella
♫ When she walks down the street,
She knows there's people watching.
The building fronts are just fronts
To hide the people watching her ♫
Tradução do letras.terra.com.br:
Quando ela caminha pela rua
Ela sabe que existem pessoas a espiando
As frentes dos prédios são somente fachadas
Para esconder as pessoas a espiando
(Trecho da música "Stella Was A Diver And She Was Always Down" da banda Interpol
Foto de Bernie Dechant)
sábado, 16 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Texto Adaptado de Yara Barbosa X Minha Janela
Da janela do meu quarto
Da janela do meu quarto eu vejo o céu.
Vejo a rua parada e o som do silêncio inquietante.
Da janela do meu quarto eu vejo todas as cores dos sentimentos.
O azul de quando tudo está na mais perfeita harmonia.
O amarelo rico que te ilude e fascina.
O branco da paz interna radiante.
O vermelho da paixão ardente dentro do meu corpo.
O preto do ódio de estar sentindo ódio.
O rosa do amor mais lindo e puro que já existiu.
Da janela do meu quarto eu sinto a brisa leve no meu rosto.
Aquela brisa que carrega levemente as folhas no chão de um lado para outro.
Da janela do meu quarto eu vejo a tristeza e a alegria brigando para dominar nossos corações.
A ganância e a libertação disputando a conquista pelo ser humano.
Um ponto onde nada é impossível. Onde a vida real se confunde com a fantasia.
E ali, naquele lugar, com aquele ser, consigo ver todas as cores dos sentimentos.
Consigo ouvir o silêncio e sentir a brisa leve no meu rosto.
Ali, eu vejo além da janela do meu quarto.
Texto Adaptado | Yara Barbosa
Apto 106 | Marina Colasanti
Apto 106
A encomenda chega pelo correio em sucessivos volumes. Nas caixas de papelão as peças brilham plásticas, folhetos coloridos ilustram segredos de montagem, porcas, parafusos, elásticos garantem firmeza.
Trabalha à noite. No encaixe desliza a ponta que em outro encaixe se prende. Gira a rosca. Por partes cresce o conjunto. E o pincel de marta desliza espalhando verniz. Por fim, prendem-se as asas.
Pronto, de frente para a janela aberta. Sobe-lhe ao dorso Aperta os joelhos, dá ordens, puxa alavancas. Movem-se as asas lentamente. Sem vôo, porém, quedas as patas que repousam sobre tacos. Insiste, ergue o próprio corpo para frente em ajuda de impulso. Nada. Apenas o ar se agita, tangido pelo vaivém mecânico das asas.
Inutilmente escreverá para os fabricantes. Receberá, prezado senhor, explicação de mal-entendido, não tendo sido o vôo mencionado em qualquer documento informativo concernente nosso produto nosso produto remetido em data aprazada conforme guia do correio nº B-45/75301.
Um erro, um mal-entendido. Como entender de outra forma? Só por isso comprou. Tudo levava a crer. Tudo. Agora lá está diante da inútil janela. Escultura cinética enfeitando a sala, cavalo alado morto.
Marina Colasanti | A Morada do Ser
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
de uns tempos pra cá
Tem uma moça que vai sempre nas quartas no BluesVelvet, e com ela uma maneira de falar sobre a super-presença me foi presentificada. Ela esta sempre olhando com os olhos bem abertos, sorrindo, o corpo como que comandado se virava em movimentos bruscos em direção a outros corpos, ela não era ela, ela era uma projeção dela mesma, INCONSCIENTE. matutei sobre isso.
(o controle dela esteja talvez sobre o estado (superpresença) e não sobre a ação) ????
Ontionti, pedalando, me veio a super-presença, essa dimensão geralmente maior. Sendo trabalhada CONSCIENTE pode ser lindamente interessante. Imagine comigo agora, um corpo que transita entre, ausência, presença e super-presença CONSCIENTEMENTE em cena.
Acaba que presença é mais um estar do corpo. Aquela moça do BluesVelvet se colocava em uma outra atmosfera para ser notada, mas o que mais me notou nela foi a percepção que ela não controlava a super-presença. Ela se jogava num estado.
Obrigado moça do BluesVelvet, srta Napoli, Des, IMP
Nota de rodapé: Ausência, Presença, Super-Presença, Consciencia, Cena.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Girl in the Window
Fyodor Dostoevsky
Fyodor Dostoiévski
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
A pálida
No café-da-manhã, minhas certezas servem-se de dúvidas. E têm dias em que me sinto estrangeiro em Montevidéu e em qualquer outra parte. Nesses dias, dias sem sol, noites sem lua, nenhum lugar é o meu lugar e não consigo me reconhecer em nada, em ninguém. As palavras não se parecem àquilo que dão nome, e não se parecem nem mesmo ao seu pŕoprio som. Então não estou onde estou. Deixo meu corpo e saio, para longe, para lugar nenhum, e não quero estar com ninguém, nem mesmo comigo, e não tenho, nem quero ter, nome algum: então perco a vontade de me chamar ou de ser chamado.
Esse texto é do meu querido Livro dos Abraços, do Eduardo Galeano. E, de alguma forma, ele me remete muito à esses estados-espaços de silêncio, vazio, ausência. Deleitem-se!
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Eu sei, mas não devia
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(1972)
O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.