sábado, 27 de novembro de 2010

Sobre a janela 2

Despertar uma vida hoje passiva
Uma energia guardada
Mas não um choque
Uma contaminação
Que escorre pelas paredes

Um sangue que corre
Um arrepiar que começa
Um balde de luz que lentamente se derruba

Sobre a janela 1

Quadro de família
Time todo reunido
Tudo parte de uma mesma coisa
Prédio principal
A ligação existe e é perceptível, mas nada se liga
Harmonia de olhares, mas ninguém se olha
Cotidiano do coçar
Investigação do coçar
As partes de um todo que não se sabe o que
Atirando para não se sabe onde
Mas sem nada sair do lugar
Sem se abalar
Uma chacoalhar quase tímido
Apenas do detalhe
Uma estrutura sem espaços
Concreto armado
Furos mil
Onde se imagina passar
Mas onde quase nada passa
Onde tudo se mantém
Onde tudo está
Guardado e encaixado
Cada um na sua ausência
Cada um no seu lugar

domingo, 21 de novembro de 2010

portas e janelas

relacionar-se com o acaso,
com outros corpos
desarmar o olhar do espaco
são brincadeiras diarias
no onibus, na porta de casa
de porta e janela abertas
para que o vento esteja sempre em movimento dentro casa
dentro de mim

domingo, 14 de novembro de 2010

Coisas


Eu não sei. Há momentos em que é tão difícil estruturar pensamentos... E por um lado isso é bom. Tenho pensado demais nesses últimos tempos...
Quando a Ju perguntou "do que você tem medo?" eu percebi que, na verdade e para variar, meu medo é sempre esse de não atingir. Medo de não conseguir me colocar em risco, medo de não chegar no outro.
Acho que o que me move - tanto na janela quanto no rompimento - é o amor. Assim como na vida. E o que isso possa significar. Tive vontade de falar mas (há-há!) isso me dá medo, me assusta um pouco. Mas vejo como meu caminho de alcance ao outro é através do amor. Do amor que dói e afasta-se, mergulha em si mesmo como que para fugir de si, de sua natureza que nem sempre é fácil, confortável, agradável. Do amor que rompe as fronteiras, escancara as janelas, quebra, sangra. Do amor que beira a paz, que se reconhece no afeto, que alegra e esquenta. Esquenta esse impalpável, torna morno o intangível. Do amor que ama apenas por amar pois encontra sua satisfação em encontrar o outro. Por mais que não haja correspondências, por mais que não se cumpram expectativas. Apenas ama. Pois crê, dessa forma, alcançar o outro, crescer a paz, acreditar o mundo.

____

Beijos amorosos, meus queridos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Parapeito

Então minha gente.

Venho dividir com vocês um pouco do que estou pensando.

Durante os nosso exercícios essa palavra tem vindo muito na minha cabeça.

E resolvi ir atrás dela:


Definição:


“Parapeito (do italiano parapeitto) é uma espécie de parede como barreira, que se ergue até a altura do peito, situado à extremidade de um telhado ou edifício. Pode servir para prevenir quedas não desejadas, e ainda ter funções defensivas, de construção ou estilo arquitetônico.

Também chama-se parapeito ou peitoril à parte inferior das janelas, de madeira ou outro material, onde se debruça. Em linguagem militar, o parapeito é a parte superior das trincheiras, que serve para proteção dos soldados.”


Não satisfeito com tudo isso fui vasculhando o Google e encontrei um livro que se chama No parapeito de uma menina chamada Rita Ferro Rodrigues.


Ela tinha um blog e o livro surgiu dai:


Editado A partir do blog que fez sucesso na internet, um livro, No Parapeito: as palavras que ficam suspensas nas janelas, fala das coisas Simples da felicidade.

A história de abertura que dá o título ao livro é um texto de homenagem aos seus avós. Durante anos namoraram à janela, e para manterem a intimidade das palavras e os segredos dos amantes, falavam no silencio: escreviam frases inteiras no ar, desenhando todas as letras que são necessárias para dizer tudo o que se sente quando se ama. Assim foi durante muitos anos. Aquele amor cresceu naquela janela e com ele o desejo de casar..


Olhem ai, coisas que encontrei da moça:


Fui escorregando por ti adentro, devagarinho. Tacteando à medida que ia entrando em ti, com cuidado. Tinham-me dito que isso de um homem e uma mulher sentirem um pelo outro (apenas?) uma amizade profunda era luta perdida


A vida vai-me passando ao lado. Desta janela parada em que a observo é doloroso ver outros parapeitos irrequietos e, asseguro-vos, demasiado irreverentes. Urge dar valor à vida


Será que ela repara, que o tempo não anda mais?

Será que ela repara, que o sol não gira mais?

Será que ela repara, que meu peito para?


Disso me deu a súbita vontade de dançar com a Sarah, que gentilmente aceito o convite e estamos começando a explorar essas ideias.


E como nem tudo são flores na vida de um casal, porque de vez enquando vem a guerra... ainda tem um conto da Marina Colasanti que está nos inspirando para fazer o desentendimento (ou pode ser o não intendimento) do casal:


Apto 503:


Chegando em casa do trabalho, boa-noite, um vago beijo, e os movimento sempre reiniciados.


Porém não aquela noite. Depois do cumprimento, em vez do beijo, recebeu da mulher uma luz de incompreensão:


-Wrts? - Perguntou ela. Ou assim lhe pareceu.


Impressão de ter ouvido mal. Repetição de tudo. E de repente a vertigem do espanto. Sim, as palavras de tantos anos não eram mais veículo. Falavam línguas estranhas. Ainda insistiram, esperando. Mas os sons que articulava nada significavam para o outro. E esbarraram no silêncio.


Quietos na casa pela primeira vez.


Procuraram-se pelos olhos. Ensaiaram gestos. Aos poucos, um entendimento distante se fazia, substituindo conversas.


A casa vestiu outra rotina. Cediam o passo diante da geladeira, entretinham-se em silêncio ocupados em si, já não brigavam. Encontravam-se à noite reconhecendo gemidos, e no espaço aberto pelo não falar moviam-se fáceis.


Mas um dia, voltando da rua, ela o cumprimentou com o antiga naturalidade. Boa noite, e estendeu o rosto para o beijo.


Vencendo rápido o susto, ele imprimiu no rosto luz de incompreensão e :


- Wrts? - respondeu


E para quem puder entre no blog http://sorriso-do-bisturi.blogspot.com/ para conhecer um pouco mais da R.F.R.



Fui assistir o espetáculo "O Amor vem do nada..." lá no Pé no Palco, que inclusive tem assistência de direção do nosso amigo Douglas, e me deparei com um texto muito sensível e também inspirador. Aí vai:

"Queria amar, assim como quem lava os cabelos de uma mulher.
A mulher deitada na banheira e minhas mãos encaracolando espuma, friccionando a pele com a ponta dos dedos.
Desamarrar um por um dos cílios.
A cabeça dela para trás, os olhos fechados à espera.
Pode tentar, é como cumprimentar a relva logo cedo.
Antes de morar com uma mulher deve-se lavar seus cabelos.
Levar a dor de cabeça dela para longe.
Depois apertar levemente a esponja das sobrancelhas para completar o rosto.
Não exagerar a chuva com os relâmpagos.
Não exagerar a chuva com o vento.
Correr com a ligeireza da água pelos ombros.
Para amar, basta seguir a água.
Não se precisa de mais nada.
Basta imitar a água."

Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Estrela cadente no céu da cidade

Fim de tarde cansado e vermelho. Naquele edifício fosco como uma muralha, homens e mulheres de volta do trabalho retomam seu viver doméstico.
Movem -se nos quartos, banheiros, salas e cozinhas, geometricamente superpostos, abelhas de um estranho alveário em que cada alvéolo ignora o vizinho. Ninguém chega à janela. As televisões estão ligadas.
Assim mesmo, muitos ouvem quando um acrobata de malha prateada despenca com um grito no meio do pátio.
Reunidos em espanto ao redor da rara estrela ensanguentada que ilumina o cimento, alguns levantam a cabeça. Só então percebem o fio esticado no alto, caminho improvável entre dois prédios, risco de faca cortando o céu que escurece.

Marina Colasanti - Contos de Amor Rasgados.
Apto 407
"Quando a televisão morreu esvaindo-se aos poucos em meio à frase do herói, assustou-se. Há muito ela esquecera transistores e circuitos. A televisão simplesmente vivia sua vida. E agora ali estava, sem luz e sem som, fria no meio da sala.
Ausência à qual não podia se submeter.
Trabalhou a noite inteira com o material trazido da rua. Primeiro remover a tampa, precisão de chave de fenda. Depois esvaziar o ventre, retirar fios, placas, conexões. Limpar a cavidade. Na caixa escura instalar as lâmpadas, ligar os fios, o interruptor. E ajustar, com amor e cuidado, o espelho de pontas arredondadas, exata medida do vídeo.
Tudo pronto a seu lado antes de começar o dia. Três minutos antes das sete, maquilagem perfeita. Dois minutos antes das sete, impecável blusa cor-de-rosa. Um minuto antes das sete, colar a postos. Sete horas precisas. Sentada diante do espelho liga o interruptor. Luzes. Brilha o espelho. Sua imagem no seu ar. Ação.
Sorrindo ela mergulha a colher no Danone que alimenta. Suspirando bebe Guaraná da vitória. Halitando brilha Kolinos, ahhhh. E mastiga Plus Vita. E esfrega Bom -Bril. E limpa com Fúria. E fuma fuma fuma lavando em espumas seus cabelos, tomando banhos refrescantes, estrela dos próprios comerciais, dona de uma programação que só a ela obedece."
*
Ela não vê a hora que seu momento chegue. Está pronta. À espera de uma oportunidade. Sua vida é na TV, esta é sua realidade.
Tudo ainda é ficção, mas amanhã quem sabe: - Serei estrela dos próprios comerciais!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Minha Janela


Da janela do meu quarto eu vejo o céu.
Vejo a rua parada e o som do silêncio inquietante.
Da janela do meu quarto eu vejo todas as cores dos sentimentos.
O azul de quando tudo está na mais perfeita harmonia.
O amarelo rico que te ilude e fascina.
O branco da paz interna radiante.
O vermelho da paixão ardente dentro do meu corpo.
O preto do ódio de estar sentindo ódio.
O rosa do amor mais lindo e puro que já existiu.
....
Consigo ver todas as cores dos sentimentos.
Consigo ouvir o silêncio e sentir a brisa leve no meu rosto.
Ali, eu vejo além da janela do meu quarto.











hoje de manhã na minha janela...


sol, gato, flores e tela na minha janela...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

essa noite, re-descobri, que dançar sozinho é delicia
sozinho em casa
de cortina escancarada e vizinhos frondosos

essa noite dancei comigo
era clássico, contemporâneo
meu corpo hoje

essa noite dancei comigo
......................................
dançava com outra pessoa

Naufrage - Clorinde Durand

Ofélia

"Águas demais pra ti minha pobre Ofélia..."

Na janela, entre olhares encharcados, Gabriel e Mariana dividem suas vidas (e conseqüentemente bailam suas ausências) com Ofélias, Stellas, Marinas, Virginias e Clarissas.
Não se sabe muito bem como se dá essa troca de olhares, mas uma coisa é certa, todos que estão, pra cá e pra lá do vidro, estão alagados, encharcados, afogados, mergulhados em um amor incondicional que dilacera-os.

(Sobre processo Criativo Janelas- Parceria Gabriel Machado e Mariana Mello)

Referenciais:

Heiner Muller - Hamlet-Machine

(Ofélia. O seu coração é um relógio)

Eu sou Ofélia. Aquela que o rio não conservou. A mulher na forca. A mulher com as veias cortadas. A mulher com excesso de dose SOBRE OS LÁBIOS NEVE a mulher com a cabeça no fogão a gás. Ontem deixei de me matar. Estou com só com meus seios, minhas coxas, meu ventre. Rebento os instrumentos do meu cativeiro - a cadeira, a mesa, a cama. Destruo o campo de batalha que foi o meu lar. Escancaro as portas para que o vento posso entrar e o grito do mundo. Despedaço a janela. Com as mãos sangrando rasgo as fotografias dos homens que amei e que se serviram de mim na cama, mesa, na cadeira, no chão. Toco fogo na minha prisão. Atiro minhas roupas ao fogo. Exumo do meu peito o relógio que era o meu coração.Vou para rua, vestida em meu sangue.

Marina Colassanti- A Morada do Ser - Conto "Apto 204"

Trecho Final:

Ao entardecer brilha seco o sinteco. Mas do umbigo, fresca e clara, água brota alagando o ventre, lavando as carnes brancas sobre a cama.


Banda Interpol - Albúm "Our Love to Admire"

Músicas no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=6HC95n5y33I
http://www.youtube.com/watch?v=mq_S2vy0qwc

letra de "Stella was a diver and she was always down"
http://letras.terra.com.br/interpol/97173/traducao.html


Iconografia:

- Ophelia de Everett Millais


- Fotografias de Carol Armstrong - Bodies of Water

liquidez e concreto



Inspiração para minha janela; pelo buraco da fechadura vejo uma mulher, paredes de concreto e uma infiltração-fonte de água. Que a água alague tudo, vou inundar a casa.

Conto nº204
Moradas do Ser - Marina Colassanti

"A nascente apareceu repentina ao pé da cama. Irritou-se a príncipio, tanta água estragando o sinteco. Nem identificou a poça, constante apesar de panos e baldes.
Logo teve que se convencer. Água surgia do cimento, taco, sem que cano algum passasse pela vizinhança. Era a benção de uma fonte.
Banhou-se então seguidas vezes na água milagrosa. Ao entardecer despia-se, levantava a água nas mãos em concha e a despejava sobre seu corpo. Não tornava a vestir-se. Deitava nua na cama, lavadas as carnes, preciosa a pele. E com mãos suaves alisava o corpo santo, acariciava-se em redescoberta do amor. Suspirosa adormecia seu sono de festa. Aumentando a água, infiltrou porém o teto do vizinho. Que houve por bem reclamar com porteiro síndico polícia, comparecendo o bombeiro a mando da lei para, cimento e brocas, acabar com o estranho surgimento.
Ao entardecer brilha seco o sinteco. Mas do umbigo, fresca e clara, água brota alagando o ventre, lavando as carnes brancas sobre a cama."

Waiting-Esperando

a
single
feather
caught
between
2 stones

beckoning
it
waits
for
release

and
I
am
waiting
also.

-Daniel Rosenkrantz
Traducao:
Esperando

uma única pena presa entre duas pedras

acenando, ela aguarda liberdade

 
e eu estou esperando também.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

JANELAS

Em outubro de 2010 foi dada a largada de mais um processo colaborativo de criação em dança do IMP - Investigação do Movimento Particular. Após alguns encontros realizando exercícios de criação (compositions) a partir dos interesses de pesquisa de cada integrante do núcleo, chegamos finalmente a nossa temática comum de investigação: as janelas. Janelas e tudo o que essa palavra pode carregar de forma objetiva/concreta ou subjetiva/metafórica. As próprias janelas e tudo o que pode acontecer dentro e fora delas. Os moradores, os transeuntes, as relações, os conflitos, as histórias, a arquitetura, a ausência, os edifícios, o espaço entre edifícios e assim por diante. As postagens anteriores já trazem referências desta investigação e continuaremos o trabalho de compartilhamento deste material até a data do nosso próximo LAB_ (LAB_07) previsto para dia 12 de dezembro de 2010. Toda contribuição é muito bem vinda!!!